quinta-feira, 20 de junho de 2013
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
E Nós Pimba
No outro dia passeava pelas páginas da net quando deparei com uma verdadeira preciosidade. O site oficial do Zé Cabra. Não conhece? Não deixe devisitar e ouvir on-line as músicas que nos são propostas. O rapaz promete.
E com tanta música a soar aos ouvidos não podia esquecer-me do pimba. É um dos termos mais inteligentes que surgiram nos últimos anos, e como em tudo, o português imediatamente o adoptou na sua linguagem, usando o termo pimba para tudo e para todos.
Mas afinal o que é o Pimba, essa palavra tão ouvida e usada? Devemo-la a Emmanuel e a um programa-reportagem de um qualquer canal televisivo. Emmanuel cantou o ‘Rapazes da vida airada...’ e o pimba pegou.
Ele são os políticos pimba, nas palavras dos mais avisados comentadores políticos que agora fazem a sua apresentação nos ecrãs televisivos, ele é o Governo Pimba na voz dos da oposição, é o Estado Pimba que soa aos ouvidos de quem faz luta contra as medidas impostas, enfim, para tudo serve o pimba.
Este termo foi primeiramente aplicado para a música que se dizia popular, outro termo para o bem conhecido nacional-cançonetismo, dos tempos da velha senhora, e que afastava com as vozes da altura, os temores e desgraças da época. Passou-se depois para os cantares revolucionários, entoados por mil gargantas. Depois veio o tempo do romantismo com Marco Paulo, José Cid, Carlos Paião e as primeiras Pimbas sexy, as Doce. Quem não se lembra dos escândalos em redor deste grupo feminino e as letras, sempre tão cheias de significado.
De repente, a iluminação. Surge o Quim Barreiros a fazer as festas da aldeia e outros que tais, e a música Pimba salta para a ribalta. As letras agradam, falam de sexo (aquilo com que muitos que as ouvem apenas podem sonhar), de resmas de gajas boas, que acompanham os cançonetistas nas suas voltas por Portugal, ou de amores descabidos, abandonados que arrancam soluços dos peitos mais afoitos nestas andanças de amor. Falam ainda de já não ser criança, com uma voz capaz de fazer os gatos miarem em noites sem lua, ou de corações feitos de melão, ou melões que não sabem muito bem o seu lugar. Enfim, é a época gloriosa do pimba.
E como as televisões não querem perder a pedalada, vá de atirar com reis pimba, mades in pimba e outros semelhantes a tocar as raias da paranóia pimba. A acompanhar, vêem as revistas que fazem as entrevistas exclusivas com os autores, que mostram as casas, e pelo meio até dão umas receitas de culinária, de preferência dos pratos favoritos dos visados, porque isto de servir umas iscas à Ágata ou uns couratos acompanhados de música do Saul até dá outro gosto à vida. E nós pimba.
Maria do Carmo Torres / Site Mulher Portuguesa
E com tanta música a soar aos ouvidos não podia esquecer-me do pimba. É um dos termos mais inteligentes que surgiram nos últimos anos, e como em tudo, o português imediatamente o adoptou na sua linguagem, usando o termo pimba para tudo e para todos.
Mas afinal o que é o Pimba, essa palavra tão ouvida e usada? Devemo-la a Emmanuel e a um programa-reportagem de um qualquer canal televisivo. Emmanuel cantou o ‘Rapazes da vida airada...’ e o pimba pegou.
Ele são os políticos pimba, nas palavras dos mais avisados comentadores políticos que agora fazem a sua apresentação nos ecrãs televisivos, ele é o Governo Pimba na voz dos da oposição, é o Estado Pimba que soa aos ouvidos de quem faz luta contra as medidas impostas, enfim, para tudo serve o pimba.
Este termo foi primeiramente aplicado para a música que se dizia popular, outro termo para o bem conhecido nacional-cançonetismo, dos tempos da velha senhora, e que afastava com as vozes da altura, os temores e desgraças da época. Passou-se depois para os cantares revolucionários, entoados por mil gargantas. Depois veio o tempo do romantismo com Marco Paulo, José Cid, Carlos Paião e as primeiras Pimbas sexy, as Doce. Quem não se lembra dos escândalos em redor deste grupo feminino e as letras, sempre tão cheias de significado.
De repente, a iluminação. Surge o Quim Barreiros a fazer as festas da aldeia e outros que tais, e a música Pimba salta para a ribalta. As letras agradam, falam de sexo (aquilo com que muitos que as ouvem apenas podem sonhar), de resmas de gajas boas, que acompanham os cançonetistas nas suas voltas por Portugal, ou de amores descabidos, abandonados que arrancam soluços dos peitos mais afoitos nestas andanças de amor. Falam ainda de já não ser criança, com uma voz capaz de fazer os gatos miarem em noites sem lua, ou de corações feitos de melão, ou melões que não sabem muito bem o seu lugar. Enfim, é a época gloriosa do pimba.
E como as televisões não querem perder a pedalada, vá de atirar com reis pimba, mades in pimba e outros semelhantes a tocar as raias da paranóia pimba. A acompanhar, vêem as revistas que fazem as entrevistas exclusivas com os autores, que mostram as casas, e pelo meio até dão umas receitas de culinária, de preferência dos pratos favoritos dos visados, porque isto de servir umas iscas à Ágata ou uns couratos acompanhados de música do Saul até dá outro gosto à vida. E nós pimba.
Maria do Carmo Torres / Site Mulher Portuguesa
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013
O pequenino «artista»
TVisto
Um dia destes, talvez à falta de melhor tema, talvez não, Margarida Marante foi saber como é que criancinhas que o "showbiz" vedetarizou, os chamados "artistas de palmo e meio", compatibilizam a sua condição de meninos com a alegada condição de prodígios. Para isso, chamou aos estúdios da SIC a Maria Armanda, que há anos teve um grande êxito a cantar que vira um sapo, Ana Malhoa, cançonetista de segunda geração e apresentadora do "Bueréré", Saúl, discípulo e versão miniaturizada do Quim Barreiros. Quem assistiu à emissão teve o gosto de verificar que Maria Armanda não confirmou as previsões pessimistas dos que em tempos miraram, consternados, a bonequinha de unhas precocemente pintadas em que tinham transformado a criança que afinal foi capaz de crescer e tornar-se uma criatura tão normal que até foi condenada pelo mercado de trabalho a aplicar uma licenciatura em Letras nas funções de telefonista. Quanto a Ana Malhoa, foi discreta e disse o que dela poderia esperar-se com algum optimismo, isto é, teve uma prestação que pouco ou nada adiantou ao tema em debate. Também passou pelo programa aquela pequena convenientemente esquálida que recentemente surgiu, diz-se, como modelo de grande grandeza internacional, mas como ela só se tornou vedeta aos catorze anos dificilmente pode ser arrolada como menina-prodígio. O pequeno Saúl, esse sim, foi uma presença talvez mais que significativa, impressionante. Com ele veio o pai, que deu muitos sinais de estar feliz com o êxito do filho, e ainda bem. Mas o garoto, se é que esta palavra ainda se justifica plenamente, deu para pensar.
O Saul tem, como todos viram, o ar de um adulto em escala reduzida e, ainda isso não deva ser o mais importante, é talvez um dado menos esperado e justificador de uma vaga inquietação.
O importante, porém, é o próprio Saul e o que o Saul faz, isto é, o que ele canta. Porque, como se sabe, o Saul não canta umas canções quaisquer: o seu repertório é constituído total ou maioritariamente por canções do Quim Barreiros ou no estilo de Quim Barreiros. Saul chamou-lhe "brejeiras". Não são, pelo menos no que diz respeito às mais representativas: são obscenas, e dizê-Ias brejeiras é utilizar um semi eufemismo que visa furtá-las à adequada qualificação. E, acentue-se, não são obscenas por aludirem a coisas do sexo. O sexo não tem nada de obsceno, e decerto serão poucos os que sustentam terem nascido na sequência de uma obscenidade. O que é obsceno, isso sim, é o preconceito reles que por complexos motivos culturais (em melhor rigor, anticulturais) hostilizam o sexo e contra ele se mobilizam, quer utilizando um discurso falsamente purista e moralizador quer lapidando-o sob o arremesso de pilhérias onde o despeito e as frustrações tentam disfarçar-se sob o esfarrapado manto da graça rasteira.
Apedrejar o sexo
Tal como o Quim Barreiros, o pequeno Saul colhe as suas munições "artísticas" nesse velho arsenal. Mas não é o Quim, mas sim o Saul, que aqui interessa e que interessou à pesquisa de Margarida Marante. Com algum visível embaraço, a jornalista perguntou ao miudo se ele sabia do que estava a falar em certas das suas cantigas, e o artista respondeu, com os seus gestos de adulto prematuro, que sim senhora, é claro que sabia. Admitamos que sim, que tem uma ideia necessariamente teórica e crua dos temas que lhe fornecem. A questão é que, apesar da sua precocidade, não é de crer que ele saiba, com um saber todo de experiência feito, da pulsão sexual, das relações sempre delicadas e parcialmente misteriosas entre sensualidade e sentimento, da intimidade entre desejo e amor.
Quer dizer: o que dificilmente ele pode saber, porque se trata de uma sabedoria que lhe é praticamente inacessível, é que as suas cantigas avacalham um universo de realidades cuja abordagem em termos de seriedade continua a ser extremamente difícil, mesmo nos dias de hoje, liberalizadores de comportamentos.
Posto isto, a interrogação que me surge tem a ver com o que vai ser Saul, quando deixar de ser pequenino, perante a vida sexual e sentimental e alheia. Com razão ou sem ela, tenho como certo que a sua educação sexual mais a do auditório infantil que segundo ele é o que mais gosta de ouvi-lo é a pior possível. E isso tem consequências, para si e para os outros, até porventura para os que hoje não pareciam por aí além a sua actividade artística. É um preço a pagar, sem dúvida. Pequeno preço, certo, na avaliação do seu feliz pai. Preço difícil de fixar, mesmo só por cálculo aproximativo, se não nos alhearmos do efeito deseducador das cantigas reles num país secularmente hostil a um entendimento do sexo em termos de seriedade ou, talvez mellhor, da mera inteligência. Continua a não ser raro, entre nós, que a garota apedreje um casal de cães surpreendido em plena cópula. Mas comparado o pequeno Saul, na esteira do espigadote Barreiros ganhou notoriedade a apedrejar com versalhada de pé-quebrado alguns aspectos da sexualidade corrente. Ouvimos contar que o produto dessa industria está a ser amealhado para benefício futuro, seu e dos seus irmãos. A mim, contudo, ficou a preocupar-me a contabilização não feita dos prejuízos decorrentes de tão feliz actividade «artística».
Correia da Fonseca, Avante! Nº 1266, 05/03/1997
sábado, 2 de fevereiro de 2013
Fãs seguem primeira tournée de Mickael Carreira
Foi em Guimarães onde, a 10 de Fevereiro, reuniu 10 mil fãs num pavilhão multiusos, que Mickael Carreira lançou a tournée do seu primeiro disco, "Mickael", que já vendeu mais de 60 mil cópias.
Um mês depois, mobilizou mais cinco mil para um espectáculo em Espinho exactamente à mesma hora em que o pai, Tony Carreira, dava outro concerto em Lisboa. Com os espectáculos simultâneos de pai e filho, Mickael terá perdido alguns espectadores, mas confirmou que tem público próprio e que até já disputa ao pai fãs comuns.
Seguem-se, na rota de Mickael, Caldas da Rainha (dia 01 de Abril), Luxemburgo (dia 14), Matosinhos (21) e Estremoz (28). A partir de agora - prognostica uma fã no bog Mickaelcareira-fas.blogspot.com - "vão ser só `babes` [miúdas] a suspirar por ti". O clã Carreira canta sobretudo histórias de amores perdidos e nunca esquecidos, por razões que raramente se explicam, mas que se lamentam amarguradamente.
"Eu só vivi um grande amor / Junto a ti / Mas também a primeira dor / Quando te perdi", proclama Mickael na canção "Amar", talvez o seu maior êxito.
Perdi o teu amor / Não sei se o volto a ter / Mas tu és a razão de eu viver", completa em "Dou A Vida Por Ti", uma canção escrita por Ricardo Landum.
Igualmente sob letra de Landum, o pai, Tony, passa uma mensagem similar no seu maior sucesso: lamuria o "destino infiel" de um "amante atraiçoado" e "marido mal-amado", remetido à "solidão e ao desgosto mais chorado". Num caso e noutro, as canções afirmam-se como fórmula eficaz para fazer suspirar românticas incuráveis, que se revêem nos quadros de desilusão amorosa traçados, ou que, simplesmente, vislumbram no palco o exemplo do homem perfeito para amar, o "sexy simbol".
As fãs trauteiam, de cor e salteado, as músicas de ambos e detestam que os rotulem de músicos-pimba, um conceito geralmente associado a música de má qualidade. "Pimba é o Emanuel", corrige Carla, 22 anos, uma admiradora de Tony e Mica, residente em Santa Maria da Feira. "Mica e o pai são um caso de sucesso, espalham charme, beleza, simpatia", sentencia Ana Sofia, 26 anos, de Baltar, Paredes, outra admiradora do clã Carreira. "Mickael, muito mais, porque é bonito e tem um corpo perfeito", alvitra outra residente em Paredes, Carla Machado, 16 anos, enquanto espera, a hora de assistir ao segundo concerto do ídolo, na Nave Polidesportiva de Espinho.
Raparigas muito jovens, mas também mulheres de meia-idade, sobressaíam entre a multidão que presenciou o concerto de Espinho. Mas havia igualmente homens rendidos à música do rapaz, como Luís Meireles, 18 anos, vindo do Vale do Sousa.
E até crianças, como Cristiana, 04 anos, de Lisboa, carregada ao colo pela mãe, Maria da Conceição. A pequena Cristina é, de resto, a sócia número 1 do Clube de Fãs de Mickael Carreira, que reúne mais 160 pessoas de Albufeira ao Luxemburgo, segundo informou a mãe.
Algumas das fãs deslocaram-se de Lisboa, em autocarro especialmente fretado, chegando a Espinho às 06:00 da madrugada, 16 horas e meia antes do início do concerto. Vieram depois os inevitáveis arrumadores de automóveis, as roullotes de bifanas e os vendedores de artefactos florescentes para acenar ao ídolo. E o negócio nem correu mal, a avaliar pelo testemunho de Palmira, 55 anos, residente no Porto, que se desloca a todos os espectáculos do "clã" Carreira para vender os artefactos florescentes.
Quanto ao espectáculo, começaria com uma hora de atraso e só acabaria cinco "encores" depois do final anunciado, porque o público exigia sucessivos regressos do cantor ao palco. Mas a missão de Mickael estava ainda longe do fim:
esperavam-no centenas de fãs, em fila indiana, empunhado fotos do cantor, compradas a euro e meio, para o autógrafo da praxe.
"Vai ficar até que lhe peçam o último autógrafo", garantiu João Azeitona, da editora fonográfica de Mickael, a Vidisco.
Agência LUSA, 17/03/2007
Um mês depois, mobilizou mais cinco mil para um espectáculo em Espinho exactamente à mesma hora em que o pai, Tony Carreira, dava outro concerto em Lisboa. Com os espectáculos simultâneos de pai e filho, Mickael terá perdido alguns espectadores, mas confirmou que tem público próprio e que até já disputa ao pai fãs comuns.
Seguem-se, na rota de Mickael, Caldas da Rainha (dia 01 de Abril), Luxemburgo (dia 14), Matosinhos (21) e Estremoz (28). A partir de agora - prognostica uma fã no bog Mickaelcareira-fas.blogspot.com - "vão ser só `babes` [miúdas] a suspirar por ti". O clã Carreira canta sobretudo histórias de amores perdidos e nunca esquecidos, por razões que raramente se explicam, mas que se lamentam amarguradamente.
"Eu só vivi um grande amor / Junto a ti / Mas também a primeira dor / Quando te perdi", proclama Mickael na canção "Amar", talvez o seu maior êxito.
Perdi o teu amor / Não sei se o volto a ter / Mas tu és a razão de eu viver", completa em "Dou A Vida Por Ti", uma canção escrita por Ricardo Landum.
Igualmente sob letra de Landum, o pai, Tony, passa uma mensagem similar no seu maior sucesso: lamuria o "destino infiel" de um "amante atraiçoado" e "marido mal-amado", remetido à "solidão e ao desgosto mais chorado". Num caso e noutro, as canções afirmam-se como fórmula eficaz para fazer suspirar românticas incuráveis, que se revêem nos quadros de desilusão amorosa traçados, ou que, simplesmente, vislumbram no palco o exemplo do homem perfeito para amar, o "sexy simbol".
As fãs trauteiam, de cor e salteado, as músicas de ambos e detestam que os rotulem de músicos-pimba, um conceito geralmente associado a música de má qualidade. "Pimba é o Emanuel", corrige Carla, 22 anos, uma admiradora de Tony e Mica, residente em Santa Maria da Feira. "Mica e o pai são um caso de sucesso, espalham charme, beleza, simpatia", sentencia Ana Sofia, 26 anos, de Baltar, Paredes, outra admiradora do clã Carreira. "Mickael, muito mais, porque é bonito e tem um corpo perfeito", alvitra outra residente em Paredes, Carla Machado, 16 anos, enquanto espera, a hora de assistir ao segundo concerto do ídolo, na Nave Polidesportiva de Espinho.
Raparigas muito jovens, mas também mulheres de meia-idade, sobressaíam entre a multidão que presenciou o concerto de Espinho. Mas havia igualmente homens rendidos à música do rapaz, como Luís Meireles, 18 anos, vindo do Vale do Sousa.
E até crianças, como Cristiana, 04 anos, de Lisboa, carregada ao colo pela mãe, Maria da Conceição. A pequena Cristina é, de resto, a sócia número 1 do Clube de Fãs de Mickael Carreira, que reúne mais 160 pessoas de Albufeira ao Luxemburgo, segundo informou a mãe.
Algumas das fãs deslocaram-se de Lisboa, em autocarro especialmente fretado, chegando a Espinho às 06:00 da madrugada, 16 horas e meia antes do início do concerto. Vieram depois os inevitáveis arrumadores de automóveis, as roullotes de bifanas e os vendedores de artefactos florescentes para acenar ao ídolo. E o negócio nem correu mal, a avaliar pelo testemunho de Palmira, 55 anos, residente no Porto, que se desloca a todos os espectáculos do "clã" Carreira para vender os artefactos florescentes.
Quanto ao espectáculo, começaria com uma hora de atraso e só acabaria cinco "encores" depois do final anunciado, porque o público exigia sucessivos regressos do cantor ao palco. Mas a missão de Mickael estava ainda longe do fim:
esperavam-no centenas de fãs, em fila indiana, empunhado fotos do cantor, compradas a euro e meio, para o autógrafo da praxe.
"Vai ficar até que lhe peçam o último autógrafo", garantiu João Azeitona, da editora fonográfica de Mickael, a Vidisco.
Agência LUSA, 17/03/2007
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
A ditadura do pimba
À SEMELHANÇA do que se passa no mundo da moda, as discotecas e as músicas têm a sua época. O culto da música pimba, por exemplo, em abono da verdade, começou em alguns bares do Bairro Alto há já uns bons anos. Passar músicas de Marco Paulo ou de outros artistas cantantes, no meio de sons progressivos, dava um certo ar de «onda» e quem não entendia essa «corrente» era porque não se inseria na cultura dominante.
Depois, os estudantes espalhados pelo país começaram a contratar os quins barreiros para animarem as festas universitárias. Como uma bola de pinguepongue, essa tendência voltou a Lisboa, mas não para o Bairro Alto. Assaltou as discotecas da zona ribeirinha e quase todas se atreviam a passar uma meia dúzia de faixas pimbas. Dá-se então o fenómeno dos Excesso e companhia.
Mulheres de todas as classes dançavam freneticamente ao som do «Eu sou aquele». Mal ouviam as primeiras batidas invadiam as pistas de dança. Quem não entrava no jogo arriscava-se a ter a casa meio para o morno. Isto, obviamente, nas discotecas ditas comerciais. Aliado ao fenómeno destas músicas portuguesas, surgiram as brasileiras, com Daniela Mercury à cabeça - que hoje é já um verdadeiro pesadelo. Finalmente, apareceram todos os artistas românticos espanhóis e italianos. Assim, as discotecas mais na moda, quando pretendem agitar a clientela, começam a passar uma música desta selecção.
O sucesso é garantido. As mulheres agitam-se de novo. Mas será que alguém acha graça à enésima vez que ouve tal sonoridade? Parece evidente que aqueles que mais tarde o perceberem serão os que ficarão para trás. A moda, essa, terá inventado outra novidade.
Como na música, também os excessos cometidos na capital, em termos de «deboche», se vão alastrando pelo país à medida que vão morrendo no seu foco. O Alcântara-Mar, por exemplo, vai estar fechado uma temporada para obras e para cortar com a imagem dos últimos tempos. Atingiu-se um ponto em que só quase o «bas-fond» gostava de terminar a noite em Alcântara. A história repete-se. Já noutros tempos assim aconteceu. A discoteca, que já foi por diversas vezes a mais emblemática de Lisboa, bateu no fundo e passado uns meses apareceu com toda a força.
É possível que quando reabrir volte a ter o público ideal para o fim de noite. Descamisados com a gravata ao lado, profissionais liberais, prostitutas em folga, travestis, mulheres engraçadas... Esta foi a imagem mais forte do Alcântara e não deixa de ser curioso que actualmente seja a imagem oposta a que está mais a dar.
Com a «bimbalhização» da maioria das discotecas, estou em crer que o Bairro Alto será o grande beneficiado. Também as discotecas e bares do circuito industrial, chamemos-lhe assim, terão mais público. Neste caso estão a Indústria, o Bar do Rio e o Kremlin, que às quintas-feiras, com o «dj» Vibe, tem uma noite, para os amantes do house, inigualável. Para não falar nos outros espaços que possuem uma cultura própria, seja de salsa, merengue, irlandês ou rock. Por este caminho, tudo leva a crer que as danielas mercuris, os excessos, os andrés bocellis e amigos dentro em breve farão parte do passado. A bem da nação.
Vítor Rainho, Expresso, 01/05/1998
Depois, os estudantes espalhados pelo país começaram a contratar os quins barreiros para animarem as festas universitárias. Como uma bola de pinguepongue, essa tendência voltou a Lisboa, mas não para o Bairro Alto. Assaltou as discotecas da zona ribeirinha e quase todas se atreviam a passar uma meia dúzia de faixas pimbas. Dá-se então o fenómeno dos Excesso e companhia.
Mulheres de todas as classes dançavam freneticamente ao som do «Eu sou aquele». Mal ouviam as primeiras batidas invadiam as pistas de dança. Quem não entrava no jogo arriscava-se a ter a casa meio para o morno. Isto, obviamente, nas discotecas ditas comerciais. Aliado ao fenómeno destas músicas portuguesas, surgiram as brasileiras, com Daniela Mercury à cabeça - que hoje é já um verdadeiro pesadelo. Finalmente, apareceram todos os artistas românticos espanhóis e italianos. Assim, as discotecas mais na moda, quando pretendem agitar a clientela, começam a passar uma música desta selecção.
O sucesso é garantido. As mulheres agitam-se de novo. Mas será que alguém acha graça à enésima vez que ouve tal sonoridade? Parece evidente que aqueles que mais tarde o perceberem serão os que ficarão para trás. A moda, essa, terá inventado outra novidade.
Como na música, também os excessos cometidos na capital, em termos de «deboche», se vão alastrando pelo país à medida que vão morrendo no seu foco. O Alcântara-Mar, por exemplo, vai estar fechado uma temporada para obras e para cortar com a imagem dos últimos tempos. Atingiu-se um ponto em que só quase o «bas-fond» gostava de terminar a noite em Alcântara. A história repete-se. Já noutros tempos assim aconteceu. A discoteca, que já foi por diversas vezes a mais emblemática de Lisboa, bateu no fundo e passado uns meses apareceu com toda a força.
É possível que quando reabrir volte a ter o público ideal para o fim de noite. Descamisados com a gravata ao lado, profissionais liberais, prostitutas em folga, travestis, mulheres engraçadas... Esta foi a imagem mais forte do Alcântara e não deixa de ser curioso que actualmente seja a imagem oposta a que está mais a dar.
Com a «bimbalhização» da maioria das discotecas, estou em crer que o Bairro Alto será o grande beneficiado. Também as discotecas e bares do circuito industrial, chamemos-lhe assim, terão mais público. Neste caso estão a Indústria, o Bar do Rio e o Kremlin, que às quintas-feiras, com o «dj» Vibe, tem uma noite, para os amantes do house, inigualável. Para não falar nos outros espaços que possuem uma cultura própria, seja de salsa, merengue, irlandês ou rock. Por este caminho, tudo leva a crer que as danielas mercuris, os excessos, os andrés bocellis e amigos dentro em breve farão parte do passado. A bem da nação.
Vítor Rainho, Expresso, 01/05/1998
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