Em 1997, o Coliseu dos Recreios vestiu-se a preceito para receber a primeira gala dos ‘Reis da Canção Popular’. Lá fora, nem a chuva nem o frio afastaram os artistas nomeados, ansiosos por descobrir qual deles ia levar para casa o tão desejado troféu. A noite já ia longa quando os apresentadores, Cristina Caras Lindas e Marco Paulo, revelaram o nome dos vencedores, eleitos por um júri composto por várias personalidades do ‘showbizz’ nacional. No momento crucial, o silêncio instalou-se na mítica sala de espectáculos da capital, que ficou à espera de ouvir as palavras mágicas dos ‘entertainers’: “E o primeiro lugar vai para... Ágata e Emanuel!”, gritou Caras Lindas. Desvendado o resultado, os dignos vencedores ainda tiveram tempo de fazer o discurso da praxe, para agradecer a ajuda da família, da editora e em especial do público. “Sem o apoio incondicional das pessoas, a carreira de um artista está condenada logo à partida”, explica Emanuel. Na primeira edição dos ‘Reis da Canção Popular’, a chamada música ‘pimba’ estava no auge. A fama era tanta que até foi lançada uma revista com o mesmo nome — ‘Pimba’.
Ágata, ou melhor, Fernanda de Sousa, saboreava ainda o sucesso de ‘Maldito Amor’, lançado em 1995 — onde estava incluído o tema ‘Mãe Solteira’ — e ‘Escrito no Céu’, um êxito graças ao tema ‘Comunhão de Bens’. ‘Podes ficar com o carro e a casa / mas não fiques com ele’, pedia a cantora, à espera da compaixão do público. Uma vez mais, os fãs não lhe viraram as costas e o disco de 1996 fez história. Resultado: Ágata tornou-se numa figura incontornável da música popular portuguesa. Mas não se livrou do rótulo de ‘cantora pimba’: “Não me incomoda nada. O público é a fonte do meu sucesso. Além disso, respeito sempre a opinião dos outros, mesmo que o meu ponto de vista seja diferente”, avança a artista. Apesar de hoje já não ostentar o título de ‘rainha da canção popular’ , ela garante que ainda tem muito para dar: “Não sou pretensiosa, sou sonhadora! Espero um dia ter a recompensa de 30 anos de carreira cheia de alegrias e tristezas”.
O Triunfo dos Anjos A gala ‘Reis da Canção Popular’ até pode ter perdido o fulgor dos primeiros anos, mas em Janeiro de 2003 os artistas voltaram-se a reunir - desta vez no Teatro Maria Vitória — para aplaudir a vitória dos Anjos e do trio feminino Entrevozes. À excepção dos reincidentes irmãos Rosado, 'reis' em 2000, os vencedores dos últimos anos ainda não gozam de um estatuto de vedetas, como acontecia com Mónica Sintra, Micaela ou José Alberto Reis, na década de 90.
Em 2001, o ex-‘Excesso’ João Portugal e a (quase) desconhecida Ana Ritta consagraram-se ‘campeões’, o que só vem provar que a música popular portuguesa tem estado em constante mudança.
E o prémio vai para...
1997 – Ágata e Emanuel
1998 – Micaela e José Alberto Reis
1999 – Mónica Sintra e Excesso
2000 – Anjos
2001 – João Portugal e Ana Rita
2002 – Anjos e Entrevozes
O SHOW POPULAR
“Com a chegada das estações privadas e a ‘guerra’ das audiências televisão, tudo mudou. A partir daí, até a RTP começou a promover a música popular”, recorda o apresentador Carlos Ribeiro. Além do ‘Made In Portugal’, em meados da década de 90, os artistas não perdiam uma oportunidade de ir cantar aos programas ‘Telemúsica’ e ‘Reis da Música Nacional’, ambos na TVI, ou à estação de Carnaxide, mais precisamente ao ‘Big Show SIC’ e à ‘Roda dos Milhões’ – dois projectos do pai da ‘televisão em movimento’, Ediberto Lima. “Também não nos podemos esquecer dos programas de Herman José. Ele sempre incentivou a música ligeira”, afirma o cantor Nelo Silva. Pelo ‘Parabéns’, ‘Herman 99’ (ambos na RTP) ou ‘Herman SIC’ desfilaram alguns dos mais conhecidos cantores populares. O humorista nunca escondeu o seu fascínio pelo Duo Ele e Ela, Zé Cabra, Quim Barreiros, Roberto Leal ou pela ‘sexy’ Claudisabel.
Maria Barbosa, Correio da Manhã, 17/08/2003