Começa a ser confrangedor assistir à dança de governantes e comissários políticos do PS em visita à região, fazendo-se esquecidos das promessas feitas para estes quatro anos e tentando, desesperamente, passar a mensagem de que no próximo Quadro Comunitário de Apoio vai correr "leite e mel" como na Terra Prometida.
Também é caricato verificar que estas comitivas arrastam a presença sistemática de duas a três dezenas de "boys" locais, que estando em todas as "sessões solenes" (até parece que não têm mais nada para fazer), ou que estão ali, só, para encher a sala e bater palmas. Os mesmos que na sua maioria, antes, nunca compareciam a estes eventos e, agora, só, comparecem porque os cargos que ocupam a isso os obrigam. É certo que nestas paisagens solénicas não comparecem os "ex-boys" do PSD – desapareceram por completo –, já não são obrigados a tanto. Assim como, também, os actuais desaparecerão quando deixarem de se sentir "obrigados" a estar presentes.
Alguém já referiu que o Primeiro-Ministro, quando fala da guerra, que declarou em conjunto com os da NATO à Jugoslávia, fala com "cara de beato sofrido". O comportamento dos governantes que nos visitam é muito semelhante. Eles debitam a "cassete" com um ar sofrido, e lá vão dizendo que são contra as assimetrias e a interioridade como se disso não fossem co-responsáveis. Melhor seria que assumissem a sua parte de responsabilidade. A actual situação resulta, de facto, das políticas desenvolvidas pelo seu governo. Lata é o que não lhes falta!
Porém, a dura realidade desmente clara e completamente os «santos» sentimentos de tão ilustres visitantes. Na esteira das políticas desenvolvidas pelo Governo do PSD/Cavaco, o Governo do PS tem sido, no essencial, uma fotocópia fiel. Só que as fotocópias, por muito boas que sejam, nunca conseguem ser a reprodução completa do original e uma má política, fotocopiada, fica má a dobrar.
Os actuais governantes sabem melhor que nós que o seu Governo, ao aceitar o Pacto de Estabilidade, estava a comprometer-se com inevitáveis medidas que iriam contrariar o desenvolvimento harmonioso do País e acentuar, ainda mais, a desertificação de todo o interior. Sabem-no e são cúmplices de tal política. Portanto, vamos ver se no mínimo há honestidade intelectual.
A procura de mais uns «votitos», em época eleitoral, não pode justificar tudo. Porque em política não vale tudo. As situações a que constantemente assistimos, de tão anedóticas, às vezes até parecem inimagináveis.
O caminho instável e errático seguido por este governo, onde nunca se sabe nem se descobre o rumo, não pode ser explicado pela repetida afirmação do diálogo, na medida em que o diálogo pressupõe acção e realização.
Já o dissemos e voltamos a repetir: bom seria que o Primeiro-Ministro voltasse ao distrito para prestar contas das promessas que fez, quando da sua primeira e já «célebre» Governação Aberta. Muito gostaríamos de saber onde foram gastos os 100 milhões de contos que prometeu. Bem como se no seu mapa já consta Bragança.
O representante do Governo no distrito fazia, há pouco tempo, num jornal da cidade, uma «lista de merceeiro» da obra realizada por este Governo. Aquela lista, que nem sequer é original e que será exibida até à exaustão na campanha que se aproxima, ignora propositadamente o essencial. Faz ou pretende fazer de nós todos parvos.
Em homenagem à verdade, daqui desafiamos o Governo e o partido que o suporta a acrescentar à lista aquilo que está por fazer, designadamente: a construção do IP2; a conclusão do IP4; a construção do IC30; o alargamento e correcção de traçados das estradas que ligam a capital de distrito aos concelhos; a construção da nova linha de caminho-de-ferro com ligação a Espanha; a construção da Barragem das Laranjeiras; a construção do Hospital de Mogadouro; a rede de gás natural; a criação da Universidade de Bragança; a criação da Delegação da Polícia Judiciária de Bragança; medidas de apoio e incentivo ao investimento privado na região; a criação de postos de trabalho, nomeadamente com vista à fixação da juventude; o apoio à agricultura e aos agricultores (construção dos matadouros de Bragança e Vinhais, combate à brucelose, apoio à produção e à comercialização); o desenvolvimento do turismo e a preservação do nosso património ambiental; a construção de novos centros de saúde e o fim das listas de espera nos hospitais e centros de saúde do distrito; etc., etc., etc.
Ou então, por que não explicar o falhanço completo da aplicação das verbas do Prodouro e do Procôa, em vez de demagógica e irresponsavelmente virem, agora, falar, por exemplo, de um novo Prodouro, como têm feito ultimamente?
Também seria interessante explicar por que é que a maior fatia do Interregue, programa vocacionado para o desenvolvimento das regiões transfronteiriças, foi aplicado no litoral, na construção da rede de gás natural, que, ainda por cima, não contempla o interior, nomeadamente o nosso distrito.
Como seria de esperar que os governantes, em visita ao distrito, explicassem aos nossos comerciantes e industriais por que é que das 11 mil candidaturas do RIME (apoio às micro-empresas), só mil estão aprovadas, deixando os empresários defraudados nas expectativas criadas e «pendurados» nos compromissos que entretanto assumiram.
Temos, efectivamente, um Governo pimba. Onde a norma é a indecisão ou as iniciativas folclóricas.
Ao contrário, a região e o País precisam de um governo e de uma nova política,
onde os cidadãos estejam no centro de todas as preocupações.
Os governos pimba são como as músicas pimba: têm muita popularidade mas não prestam.
José Brinquete / «Avante!» Nº 1332, 09/06/1999