ÁGATA
«O PP é o rei da política pimba»
ÁGATA é, há anos, o nome artístico de Fernanda de Sousa. Corre os quarentas, a cantar amores desfeitos, ciúmes, traições, cenas canalhas - as memórias da sua vida. Faz parte da nova imagem do PP-CDS, a dividir o palco com Paulo Portas. Ele clama promessas fáceis, em frases duras, como rajadas. E ela chora depois amores impossíveis, na sua voz melosa, e com o corpo a vibrar outras promessas. Tanto lhe chamam Madonna, como a rainha da música pimba.
EXPRESSO - Afinal, o que é: Madonna, ou a rainha da música pimba?
ÁGATA - Ai, as mesmíssimas duas coisas. Sou a Madonna - ou a Madonna é que é eu, porque sempre é mais nova -, porque ambas temos o mesmo bom gosto e a mesma beleza loura. Apesar de ela ser muito mais atrevida do que eu. Eu sempre me tapo com botas brancas e altas. Ela não se tapa com nada! Mas sou também a rainha da música pimba. Lá isso, é um título que ninguém me pode tirar! Todos os jornais o reconhecem!
EXP. - E isso honra-a?
A. - Muito! Porque isso significa que sou verdadeiramente popular. Como diz o dr. Paulo Portas, é preciso estar onde estão os reformados, os jovens, os lavradores, os pescadores, a classe média, preparados para ouvir apoios e críticas, sugestões e reparos - é assim que se faz política, e é assim que se faz uma carreira de cantora pimba!
EXP. - E onde é que está toda essa gente?
A. - Como diz o dr. Paulo Portas, essa gente, o povo, está sobretudo nas feiras e nos mercados. Por isso é que ele faz política nas feiras, e eu canto e vendo os meus discos nas feiras.
EXP. - Ainda bem que falou no dr. Paulo Portas, porque eu queria precisamente entrevistá-la sobre a sua ligação com o PP. Essa ligação deve-se então a uma afinidade popular?
A. - Precisamente! Assim como eu sou a rainha da música pimba, o CDS-PP é o rei da política pimba. Queremos os dois o mesmo para Portugal: bom negócio, bom trabalho e menos impostos.
EXP. - Mas as sondagens indicam não ser essa a opinião dos portugueses...
A. - Ai não?! Isso é porque as sondagens estão viciadas, e não se fazem onde deviam. Deviam fazer as sondagens nos meus espectáculos de feira, e logo veriam o que elas indicavam... ou então nos comícios do dr. Paulo Portas, como ele muito bem lembrou...
EXP. - E o que pensa dos outros partidos? O que pensa, por exemplo, do PSD?
A. - Olha, olha! Um partido que tem um candidato a escrever livros sobre o comunista do Cunhal!... Náááááá! Não serve cá para a gente do centro e da direita. Como muito bem diz o dr. Portas, isso cheira a esquerda liberal! E não me parece que isso seja coisa boa! Além de que não nos governamos com autores de livros! Afinal, para que é que servem os livros?! O dr. Portas nunca escreveu nenhum, e é um grande dirigente político, um autêntico político-pimba!
EXP. - Também não gosta do PS...
A. - Pois claro que não! Para dar mais uma mordomia ao dr. Soares?! Era o que faltava! Ainda por cima, um federalista! Não lhe chega ser presidente da fundação dele?! Ainda queria mais um tacho?! Ora toma!
EXP. - E o que é que acha do PCP?
A. - O que é que acho?! Olhe: acho que nunca me convidaram para as festas do Avante! E essas coisas, quer queiram quer não, pagam-se! Que é para aprenderem!
EXP. - E como é que vê o futuro político de Portugal?
A. - Ah, muito mal, muito mal! O país parece que está a ficar manco, coxo, desequilibrado. Tirando o dr. Portas, é tudo uma grande esquerdalhice! Veja-me só o Pacheco!...
EXP. - Como é que devia ser feita a campanha do PP, para evitar desequilíbrios?
A. - Ai, lá isso, fizemos as coisas muito bem! Primeiro que tudo, a minha presença nos comícios do PP, para associarmos bem a política pimba com a cultura pimba. E a partir daí, o papel do dr. Portas era muito simples: cada vez que via um velho, denunciava escandalizado as reformas miseráveis; e cada vez que via alguém mais novo, denunciava escandalizado os impostos que pagamos!
EXP. - Da Europa, mais em concreto, não é então preciso falar?
A. - Então não! Fala-se pois! O mais simples era limitarmo-nos a chamar comunistas aos outros todos, o que era facilitado pela pessoa do dr. Pacheco Pereira, e por aquele defeito esquisito que ele tem de escrever livros, ainda por cima sobre o Cunhal! Mas depois disso apareceu o dr. Soares com aquele maná do imposto europeu, e tudo ficou ainda mais fácil!
EXP. - E não há outras questões sociais, políticas, culturais...
A. - Culturais! Isso mesmo, culturais! É sobretudo pelas razões culturais que nós não queremos o federalismo europeu. Haveria o perigo de extinguir o que temos mais enraizado no nosso povo: a cultura pimba.
EXP. - Tem ideias concretas para evitar isso?
A. - Olhe, vou dar-lhe uma grande notícia em primeira mão: se o nosso povo, aquele que vem aos meus concertos, o que está nos comícios do CDS-PP, o que nas feiras abraça o Paulo Portas, for suficiente para nos levar algum dia ao poder, já tenho garantias de que, em vez de fechar os comícios do partido, passo a responsabilizar-me pela cultura do país.
PEDRO BRAGANÇA / Expresso, 11/06/1999
Entrevistas Imaginárias