domingo, 31 de julho de 2011

O Governo é pimba...

Começa a ser confrangedor assistir à dança de governantes e comissários políticos do PS em visita à região, fazendo-se esquecidos das promessas feitas para estes quatro anos e tentando, desesperamente, passar a mensagem de que no próximo Quadro Comunitário de Apoio vai correr "leite e mel" como na Terra Prometida.

Também é caricato verificar que estas comitivas arrastam a presença sistemática de duas a três dezenas de "boys" locais, que estando em todas as "sessões solenes" (até parece que não têm mais nada para fazer), ou que estão ali, só, para encher a sala e bater palmas. Os mesmos que na sua maioria, antes, nunca compareciam a estes eventos e, agora, só, comparecem porque os cargos que ocupam a isso os obrigam. É certo que nestas paisagens solénicas não comparecem os "ex-boys" do PSD – desapareceram por completo –, já não são obrigados a tanto. Assim como, também, os actuais desaparecerão quando deixarem de se sentir "obrigados" a estar presentes.

Alguém já referiu que o Primeiro-Ministro, quando fala da guerra, que declarou em conjunto com os da NATO à Jugoslávia, fala com "cara de beato sofrido". O comportamento dos governantes que nos visitam é muito semelhante. Eles debitam a "cassete" com um ar sofrido, e lá vão dizendo que são contra as assimetrias e a interioridade como se disso não fossem co-responsáveis. Melhor seria que assumissem a sua parte de responsabilidade. A actual situação resulta, de facto, das políticas desenvolvidas pelo seu governo. Lata é o que não lhes falta!

Porém, a dura realidade desmente clara e completamente os «santos» sentimentos de tão ilustres visitantes. Na esteira das políticas desenvolvidas pelo Governo do PSD/Cavaco, o Governo do PS tem sido, no essencial, uma fotocópia fiel. Só que as fotocópias, por muito boas que sejam, nunca conseguem ser a reprodução completa do original e uma má política, fotocopiada, fica má a dobrar.

Os actuais governantes sabem melhor que nós que o seu Governo, ao aceitar o Pacto de Estabilidade, estava a comprometer-se com inevitáveis medidas que iriam contrariar o desenvolvimento harmonioso do País e acentuar, ainda mais, a desertificação de todo o interior. Sabem-no e são cúmplices de tal política. Portanto, vamos ver se no mínimo há honestidade intelectual.

A procura de mais uns «votitos», em época eleitoral, não pode justificar tudo. Porque em política não vale tudo. As situações a que constantemente assistimos, de tão anedóticas, às vezes até parecem inimagináveis.
O caminho instável e errático seguido por este governo, onde nunca se sabe nem se descobre o rumo, não pode ser explicado pela repetida afirmação do diálogo, na medida em que o diálogo pressupõe acção e realização.

Já o dissemos e voltamos a repetir: bom seria que o Primeiro-Ministro voltasse ao distrito para prestar contas das promessas que fez, quando da sua primeira e já «célebre» Governação Aberta. Muito gostaríamos de saber onde foram gastos os 100 milhões de contos que prometeu. Bem como se no seu mapa já consta Bragança.

O representante do Governo no distrito fazia, há pouco tempo, num jornal da cidade, uma «lista de merceeiro» da obra realizada por este Governo. Aquela lista, que nem sequer é original e que será exibida até à exaustão na campanha que se aproxima, ignora propositadamente o essencial. Faz ou pretende fazer de nós todos parvos.

Em homenagem à verdade, daqui desafiamos o Governo e o partido que o suporta a acrescentar à lista aquilo que está por fazer, designadamente: a construção do IP2; a conclusão do IP4; a construção do IC30; o alargamento e correcção de traçados das estradas que ligam a capital de distrito aos concelhos; a construção da nova linha de caminho-de-ferro com ligação a Espanha; a construção da Barragem das Laranjeiras; a construção do Hospital de Mogadouro; a rede de gás natural; a criação da Universidade de Bragança; a criação da Delegação da Polícia Judiciária de Bragança; medidas de apoio e incentivo ao investimento privado na região; a criação de postos de trabalho, nomeadamente com vista à fixação da juventude; o apoio à agricultura e aos agricultores (construção dos matadouros de Bragança e Vinhais, combate à brucelose, apoio à produção e à comercialização); o desenvolvimento do turismo e a preservação do nosso património ambiental; a construção de novos centros de saúde e o fim das listas de espera nos hospitais e centros de saúde do distrito; etc., etc., etc.

Ou então, por que não explicar o falhanço completo da aplicação das verbas do Prodouro e do Procôa, em vez de demagógica e irresponsavelmente virem, agora, falar, por exemplo, de um novo Prodouro, como têm feito ultimamente?

Também seria interessante explicar por que é que a maior fatia do Interregue, programa vocacionado para o desenvolvimento das regiões transfronteiriças, foi aplicado no litoral, na construção da rede de gás natural, que, ainda por cima, não contempla o interior, nomeadamente o nosso distrito.

Como seria de esperar que os governantes, em visita ao distrito, explicassem aos nossos comerciantes e industriais por que é que das 11 mil candidaturas do RIME (apoio às micro-empresas), só mil estão aprovadas, deixando os empresários defraudados nas expectativas criadas e «pendurados» nos compromissos que entretanto assumiram.

Temos, efectivamente, um Governo pimba. Onde a norma é a indecisão ou as iniciativas folclóricas.

Ao contrário, a região e o País precisam de um governo e de uma nova política,
onde os cidadãos estejam no centro de todas as preocupações.

Os governos pimba são como as músicas pimba: têm muita popularidade mas não prestam.

José Brinquete / «Avante!» Nº 1332, 09/06/1999

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Entrevistas Imaginárias: Ágata

ÁGATA
«O PP é o rei da política pimba»

ÁGATA é, há anos, o nome artístico de Fernanda de Sousa. Corre os quarentas, a cantar amores desfeitos, ciúmes, traições, cenas canalhas - as memórias da sua vida. Faz parte da nova imagem do PP-CDS, a dividir o palco com Paulo Portas. Ele clama promessas fáceis, em frases duras, como rajadas. E ela chora depois amores impossíveis, na sua voz melosa, e com o corpo a vibrar outras promessas. Tanto lhe chamam Madonna, como a rainha da música pimba.

EXPRESSO - Afinal, o que é: Madonna, ou a rainha da música pimba?

ÁGATA - Ai, as mesmíssimas duas coisas. Sou a Madonna - ou a Madonna é que é eu, porque sempre é mais nova -, porque ambas temos o mesmo bom gosto e a mesma beleza loura. Apesar de ela ser muito mais atrevida do que eu. Eu sempre me tapo com botas brancas e altas. Ela não se tapa com nada! Mas sou também a rainha da música pimba. Lá isso, é um título que ninguém me pode tirar! Todos os jornais o reconhecem!

EXP. - E isso honra-a?

A. - Muito! Porque isso significa que sou verdadeiramente popular. Como diz o dr. Paulo Portas, é preciso estar onde estão os reformados, os jovens, os lavradores, os pescadores, a classe média, preparados para ouvir apoios e críticas, sugestões e reparos - é assim que se faz política, e é assim que se faz uma carreira de cantora pimba!

EXP. - E onde é que está toda essa gente?

A. - Como diz o dr. Paulo Portas, essa gente, o povo, está sobretudo nas feiras e nos mercados. Por isso é que ele faz política nas feiras, e eu canto e vendo os meus discos nas feiras.

EXP. - Ainda bem que falou no dr. Paulo Portas, porque eu queria precisamente entrevistá-la sobre a sua ligação com o PP. Essa ligação deve-se então a uma afinidade popular?

A. - Precisamente! Assim como eu sou a rainha da música pimba, o CDS-PP é o rei da política pimba. Queremos os dois o mesmo para Portugal: bom negócio, bom trabalho e menos impostos.

EXP. - Mas as sondagens indicam não ser essa a opinião dos portugueses...

A. - Ai não?! Isso é porque as sondagens estão viciadas, e não se fazem onde deviam. Deviam fazer as sondagens nos meus espectáculos de feira, e logo veriam o que elas indicavam... ou então nos comícios do dr. Paulo Portas, como ele muito bem lembrou...

EXP. - E o que pensa dos outros partidos? O que pensa, por exemplo, do PSD?

A. - Olha, olha! Um partido que tem um candidato a escrever livros sobre o comunista do Cunhal!... Náááááá! Não serve cá para a gente do centro e da direita. Como muito bem diz o dr. Portas, isso cheira a esquerda liberal! E não me parece que isso seja coisa boa! Além de que não nos governamos com autores de livros! Afinal, para que é que servem os livros?! O dr. Portas nunca escreveu nenhum, e é um grande dirigente político, um autêntico político-pimba!

EXP. - Também não gosta do PS...

A. - Pois claro que não! Para dar mais uma mordomia ao dr. Soares?! Era o que faltava! Ainda por cima, um federalista! Não lhe chega ser presidente da fundação dele?! Ainda queria mais um tacho?! Ora toma!

EXP. - E o que é que acha do PCP?

A. - O que é que acho?! Olhe: acho que nunca me convidaram para as festas do Avante! E essas coisas, quer queiram quer não, pagam-se! Que é para aprenderem!

EXP. - E como é que vê o futuro político de Portugal?

A. - Ah, muito mal, muito mal! O país parece que está a ficar manco, coxo, desequilibrado. Tirando o dr. Portas, é tudo uma grande esquerdalhice! Veja-me só o Pacheco!...

EXP. - Como é que devia ser feita a campanha do PP, para evitar desequilíbrios?

A. - Ai, lá isso, fizemos as coisas muito bem! Primeiro que tudo, a minha presença nos comícios do PP, para associarmos bem a política pimba com a cultura pimba. E a partir daí, o papel do dr. Portas era muito simples: cada vez que via um velho, denunciava escandalizado as reformas miseráveis; e cada vez que via alguém mais novo, denunciava escandalizado os impostos que pagamos!

EXP. - Da Europa, mais em concreto, não é então preciso falar?

A. - Então não! Fala-se pois! O mais simples era limitarmo-nos a chamar comunistas aos outros todos, o que era facilitado pela pessoa do dr. Pacheco Pereira, e por aquele defeito esquisito que ele tem de escrever livros, ainda por cima sobre o Cunhal! Mas depois disso apareceu o dr. Soares com aquele maná do imposto europeu, e tudo ficou ainda mais fácil!

EXP. - E não há outras questões sociais, políticas, culturais...

A. - Culturais! Isso mesmo, culturais! É sobretudo pelas razões culturais que nós não queremos o federalismo europeu. Haveria o perigo de extinguir o que temos mais enraizado no nosso povo: a cultura pimba.

EXP. - Tem ideias concretas para evitar isso?

A. - Olhe, vou dar-lhe uma grande notícia em primeira mão: se o nosso povo, aquele que vem aos meus concertos, o que está nos comícios do CDS-PP, o que nas feiras abraça o Paulo Portas, for suficiente para nos levar algum dia ao poder, já tenho garantias de que, em vez de fechar os comícios do partido, passo a responsabilizar-me pela cultura do país.

PEDRO BRAGANÇA / Expresso, 11/06/1999
Entrevistas Imaginárias