sexta-feira, 27 de maio de 2011
terça-feira, 17 de maio de 2011
Omã gosta de música pimba portuguesa
07 MAR 97 - 22:11
*** por Luís Pinheiro de Almeida, da Agência Lusa ***
Lisboa, 07 Mar (Lusa) - Um cidadão de Omã, Faul Al-Aufy, gosta de música pimba portuguesa, uma luso-alemã de Berlim, Fátima Schase, compra tudo o que é Amália Rodrigues, uma cidadã finlandesa, Paivi Rissanen, anda desesperadamente à procura de uma canção dos Delfins.Estes são alguns dos exemplos, exóticos, de um projecto de venda de discos portugueses para o estrangeiro concebido pela União Lisboa, com o apoio da RTPInternacional.
Trata-se da iniciativa designada por "divulgação de música portuguesa de qualidade junto das comunidades portuguesas no estrangeiro", que se desenvolve em três fases.A primeira fase, já em funcionamento, com um investimento de cinco mil contos, é o da venda de discos portugueses para o estrangeiro, via postal. A União Lisboa elaborou um catálogo com os discos imediatamente disponíveis e a RTPI emite para todo o Mundo os respectivos "spots" nas suas emissões, com as informações e pormenores relativos à compra dos discos.
Um português, ou um estrangeiro que saiba a língua de Camões, não tem mais que seguir as instruções da RTPI e encomendar para Lisboa o disco que desejar, que tanto pode ir de José Afonso à música pimba.
Graças aos apoios dos CTT, do cartão Visa e das companhias discográficas portuguesas, os discos chegam ao destinatário praticamente ao mesmo preço que em Lisboa, incluindo portes e registos.
A revista TV Guia Internacional, só para as comunidades, inclui igualmente informação sobre este projecto.
"A iniciativa é um sucesso e temos uma média de 40 encomendas por dia. O nosso +mailing+ de clientes em todo o Mundo já ronda os 2.500", disse à Agência Lusa Francisco Cruz, director da União Lisboa.
A União Lisboa é um conglomerado de empresas que inclui edição de discos, agenciamento de artistas e produção de espectáculos. É sobretudo conhecida por ser a responsável pela carreira dos Madredeus."O nosso objectivo não é o lucro. Nunca foi. O nosso desejo é que as nossas comunidades conheçam outra música portuguesa que não a que estão habituadas a ouvir", disse Francisco Cruz, não escondendo o desejo secreto de um dia a iniciativa evoluir para um verdadeiro "clube da cultura".
"Além dos discos, podiamos vender futuramente serigrafias e outras peças de arte, livros, artesanato. Há um mundo à nossa frente", argumentou.
Por enquanto, a RTPInternacional só está a emitir os "spots" no horário "prime time" da Europa, mas a curto prazo vai também emiti-los em horário nobre de outros fusos horários, como é o caso dos Estados Unidos.
Por esta razão, são os países europeus que aparecem à cabeça dos melhores compradores. Segundo dados a que a Agência Lusa teve acesso, a Suiça está no top do mês de Fevereiro com 329 discos encomendados, seguida da Alemanha com 117.
Fora da Europa, o Brasil vem à cabeça com 43 pedidos, seguido dos Estados Unidos com 35. Os serviços da União Lisboa já registaram também pedidos de Omã (1), Antilhas Holandesas (1) e Emiratos Árabes Unidos (1).
Os PALOP também são um dos destinatários mais queridos pela União Lisboa, mas sem grande sucesso, pelo menos em Fevereiro. Angola não fez qualquer pedido, mas o embaixador de Angola na Namíbia, Garcia Bites, solicitou por fax o envio do catálogo dos discos disponíveis.Moçambique comprou um disco apenas e São Tomé e Princípe também. De Cabo Verde e Guiné-Bissau a relação também é nula.Curiosa é a situação das Regiões Autónomas, que não são propriamente os destinatários deste serviço. No entanto, os Açores compraram em Fevereiro nove discos e a Madeira dois.
Quanto aos discos mais pedidos, o projecto "Rio Grande", de Rui Veloso, Tim (dos Xutos e Pontapés), Vitorino e Jorge Palma, surge à cabeça com 222 pedidos em Fevereiro, seguido dos Delfins, com 183, e dos Santos e Pecadores, com 107, e Dulce Pontes, com 98. Pedro Abrunhosa teve apenas 12 pedidos.
"A percentagem de pedidos de discos de música pimba ronda apenas os 12, 13 por cento", revelou Francisco Cruz à Agência Lusa.A segunda fase do projecto consta da gravação de uma primeira série de 26 espectáculos com artistas nacionais para transmissão exclusiva na RTPInternacional para as comunidades portuguesas. A série, semanal, é inaugurada no dia 25 de Abril com os Pólo Norte.Já estão gravados programas com os Flood, Primitive Reason, Francisco Seia, Né Ladeiras, Tó Neto, José Cid, Ala dos Namorados, Gaiteiros de Lisboa, Diva, Rão Kyao, Ritual Tejo, António Chainho e Teresa Salgueiro, Charrua, Vozes da Rádio, Pátria, Luís Portugal e Despe e Siga.
Os artistas portugueses não cobraram qualquer "cachet", razão por que Pedro Abrunhosa ainda não participou neste projecto, designado por "Clube das Músicas". Os programas, de 50 minutos cada, serão transmitidos em "prime time" para a Europa e em "prime time" para os Estados Unidos.
Esta segunda fase tem igualmente como objectivo a possibilidade de a RTP colocar, sem encargos, estes programas nas televisões nacionais da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), disse ainda à Agência Lusa Francisco Cruz.
Uma terceira fase do projecto, prevista para 1998, consiste na realização de festivais de música nos diversos países onde haja comunidades portuguesas, com artistas idos de Lisboa e artistas portugueses ou luso-portugueses locais.
"Ainda temos de pensar muito bem neste projecto, porque este envolve custos mais avultados", concluiu Francisco Cruz.
O disco que Faul Al-Aufy encomendou é uma colectânea de música pimba editada pela Espacial com o título "Sol de Verão
*** por Luís Pinheiro de Almeida, da Agência Lusa ***
Lisboa, 07 Mar (Lusa) - Um cidadão de Omã, Faul Al-Aufy, gosta de música pimba portuguesa, uma luso-alemã de Berlim, Fátima Schase, compra tudo o que é Amália Rodrigues, uma cidadã finlandesa, Paivi Rissanen, anda desesperadamente à procura de uma canção dos Delfins.Estes são alguns dos exemplos, exóticos, de um projecto de venda de discos portugueses para o estrangeiro concebido pela União Lisboa, com o apoio da RTPInternacional.
Trata-se da iniciativa designada por "divulgação de música portuguesa de qualidade junto das comunidades portuguesas no estrangeiro", que se desenvolve em três fases.A primeira fase, já em funcionamento, com um investimento de cinco mil contos, é o da venda de discos portugueses para o estrangeiro, via postal. A União Lisboa elaborou um catálogo com os discos imediatamente disponíveis e a RTPI emite para todo o Mundo os respectivos "spots" nas suas emissões, com as informações e pormenores relativos à compra dos discos.
Um português, ou um estrangeiro que saiba a língua de Camões, não tem mais que seguir as instruções da RTPI e encomendar para Lisboa o disco que desejar, que tanto pode ir de José Afonso à música pimba.
Graças aos apoios dos CTT, do cartão Visa e das companhias discográficas portuguesas, os discos chegam ao destinatário praticamente ao mesmo preço que em Lisboa, incluindo portes e registos.
A revista TV Guia Internacional, só para as comunidades, inclui igualmente informação sobre este projecto.
"A iniciativa é um sucesso e temos uma média de 40 encomendas por dia. O nosso +mailing+ de clientes em todo o Mundo já ronda os 2.500", disse à Agência Lusa Francisco Cruz, director da União Lisboa.
A União Lisboa é um conglomerado de empresas que inclui edição de discos, agenciamento de artistas e produção de espectáculos. É sobretudo conhecida por ser a responsável pela carreira dos Madredeus."O nosso objectivo não é o lucro. Nunca foi. O nosso desejo é que as nossas comunidades conheçam outra música portuguesa que não a que estão habituadas a ouvir", disse Francisco Cruz, não escondendo o desejo secreto de um dia a iniciativa evoluir para um verdadeiro "clube da cultura".
"Além dos discos, podiamos vender futuramente serigrafias e outras peças de arte, livros, artesanato. Há um mundo à nossa frente", argumentou.
Por enquanto, a RTPInternacional só está a emitir os "spots" no horário "prime time" da Europa, mas a curto prazo vai também emiti-los em horário nobre de outros fusos horários, como é o caso dos Estados Unidos.
Por esta razão, são os países europeus que aparecem à cabeça dos melhores compradores. Segundo dados a que a Agência Lusa teve acesso, a Suiça está no top do mês de Fevereiro com 329 discos encomendados, seguida da Alemanha com 117.
Fora da Europa, o Brasil vem à cabeça com 43 pedidos, seguido dos Estados Unidos com 35. Os serviços da União Lisboa já registaram também pedidos de Omã (1), Antilhas Holandesas (1) e Emiratos Árabes Unidos (1).
Os PALOP também são um dos destinatários mais queridos pela União Lisboa, mas sem grande sucesso, pelo menos em Fevereiro. Angola não fez qualquer pedido, mas o embaixador de Angola na Namíbia, Garcia Bites, solicitou por fax o envio do catálogo dos discos disponíveis.Moçambique comprou um disco apenas e São Tomé e Princípe também. De Cabo Verde e Guiné-Bissau a relação também é nula.Curiosa é a situação das Regiões Autónomas, que não são propriamente os destinatários deste serviço. No entanto, os Açores compraram em Fevereiro nove discos e a Madeira dois.
Quanto aos discos mais pedidos, o projecto "Rio Grande", de Rui Veloso, Tim (dos Xutos e Pontapés), Vitorino e Jorge Palma, surge à cabeça com 222 pedidos em Fevereiro, seguido dos Delfins, com 183, e dos Santos e Pecadores, com 107, e Dulce Pontes, com 98. Pedro Abrunhosa teve apenas 12 pedidos.
"A percentagem de pedidos de discos de música pimba ronda apenas os 12, 13 por cento", revelou Francisco Cruz à Agência Lusa.A segunda fase do projecto consta da gravação de uma primeira série de 26 espectáculos com artistas nacionais para transmissão exclusiva na RTPInternacional para as comunidades portuguesas. A série, semanal, é inaugurada no dia 25 de Abril com os Pólo Norte.Já estão gravados programas com os Flood, Primitive Reason, Francisco Seia, Né Ladeiras, Tó Neto, José Cid, Ala dos Namorados, Gaiteiros de Lisboa, Diva, Rão Kyao, Ritual Tejo, António Chainho e Teresa Salgueiro, Charrua, Vozes da Rádio, Pátria, Luís Portugal e Despe e Siga.
Os artistas portugueses não cobraram qualquer "cachet", razão por que Pedro Abrunhosa ainda não participou neste projecto, designado por "Clube das Músicas". Os programas, de 50 minutos cada, serão transmitidos em "prime time" para a Europa e em "prime time" para os Estados Unidos.
Esta segunda fase tem igualmente como objectivo a possibilidade de a RTP colocar, sem encargos, estes programas nas televisões nacionais da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), disse ainda à Agência Lusa Francisco Cruz.
Uma terceira fase do projecto, prevista para 1998, consiste na realização de festivais de música nos diversos países onde haja comunidades portuguesas, com artistas idos de Lisboa e artistas portugueses ou luso-portugueses locais.
"Ainda temos de pensar muito bem neste projecto, porque este envolve custos mais avultados", concluiu Francisco Cruz.
O disco que Faul Al-Aufy encomendou é uma colectânea de música pimba editada pela Espacial com o título "Sol de Verão
Agência Lusa, 1997 ©
sábado, 14 de maio de 2011
Luis Filipe Reis
«Estou no lugar que mereço»
Foi a fazer bailes por todas as aldeias do distrito da Guarda que Luís Filipe Reis deu o pontapé de saída nas lides artísticas. Tinha então 16 anos e já uma grande paixão pela música popular portuguesa. Cantarolava muitas músicas «tipo José Malhoa», lembra. Na altura comprou uma bateria «muito pobrezinha» e aprendeu a tocar sozinho. Surgiu então a oportunidade de mostrar as suas habilidades em público. O convite veio da parte de um irmão do acordeonista António Júlio. Luís Filipe Reis aceitou e logo no primeiro dia fez um baile. «Recordo-me que em Gonçalo», terra natal de António Júlio. Um duo que viu a sua popularidade aumentar dia para dia. «Quase todos os dias tínhamos um baile», garante o cantor. A sintonia entre eles era tanta que ouviam uma música ao meio-dia e tocavam-na à noite, «sem ensaio». «Coisas muito bonitas que aconteciam entre mim e ele», diz a propósito. Sempre música portuguesa ou cantada em português. «Ouvíamos música estrangeira mas não a tocávamos». Actualmente não sabe do paradeiro do companheiro de tantos bailes mas espera que não tenha deixado de tocar. «Nunca conheci ninguém com o ouvido do António Júlio», argumenta. Falando de si, Luís conta que sempre foi fã do Roberto Carlos e Frederic François, entre outros cantores românticos. Uma linha que sempre seguiu. «O meu bilhete de identidade é cantar canções românticas».
O facto de ser conhecido, ter «uma vida social boa» e dos pais lhe pedirem não foram razões suficientes para o demover de procurar uma vida melhor fora daqui. «Exijo muito de mim», explica. Essa exigência e um telefonema de Abílio Curto conseguem-lhe um passaporte até Paris. «O máximo que ele [Abílio Curto] fez por mim foi muito bom, muito embora não tivesse resultado». Fala com um certo saudosismo do ex-autarca e lamenta que a «pessoa amiga do Abílio» talvez o tenha esquecido. «As pessoas são amigas quando estão presentes. Às vezes esquecem a amizade». Apesar de não querer «estar a escrever um livro tipo Linda de Suza», Luís Filipe não quis deixar de referir que foi com «muita luta e sacrifício» que venceu o desafio. «Gravei o meu primeiro álbum em Paris, depois fui convidado para gravar nos Estados Unidos». Nos primeiros dois anos que se deslocou a Portugal para dar alguns espectáculos, Luís «tinha uma certa vergonha», porque as pessoas lhe diziam que tinha um «espectáculo tão bonito e não era conhecido». «É sempre triste quando não reconhecem o nosso trabalho no nosso país de origem». O terceiro ano correu melhor. Foi convidado para gravar em Portugal. "Obrigado Portugueses" foi o nome do trabalho. Valeu-lhe o primeiro disco de ouro. Sem ir à televisão. «Não havia Mades in Portugal, nem apoio à música portuguesa». Os dois trabalhos posteriores, "Flor Portuguesa" e "Bate Coração", tiveram igual reconhecimento. «Valeu a pena ter saído do meu país e ter alcançado esses êxitos».
Gozar a velhice na Guarda
Da lista de recordações que tem da Guarda, de onde é natural, - «nascido e criado no Bairro de S.Vicente» – consta o nome de Germano Morais. «Estive na casa dele durante cinco anos», conta. Luís Filipe Antunes Reis «fazia uns recados no escritório» do empresário, que ainda hoje considera como «um homem de muito valor».
Mas nem todas as suas recordações são boas. Uma delas foi quando a mãe o deixou. «A inveja das pessoas, pelo facto de ter nascido de uma família humilde e ter conseguido tudo isto com trabalho e talento», é outra. Luís não concorda com quem pensa que só com dinheiro é que se consegue vencer na vida. «Eu não o consegui com dinheiro», até «porque não o tinha». Daí o ter de emigrar. Paris continua a ser o ponto nevrálgico de Luís Filipe, mas sempre que pode dá uma escapadela até à sua terra natal, onde espera vir a gozar a sua velhice. É de opinião de que a Guarda é uma cidade moderna, mas considera que as grandes mudanças não são de agora. «Depois do 25 de Abril a Guarda subiu dia a dia».
Actualmente, «as pessoas que pertencem à câmara, e as que estão a tomar conta da cidade, estão a fazer por ela aquilo que ela merece».
A carreira de Luís Filipe Reis vai de vento em popa. O seu mais recente trabalho, "Esquece o meu nome", valeu-lhe um disco de platina e os primeiros lugares no top nacional de vendas, designadamente no Made in Portugal. O primeiro da sua longa carreira. «Tenho dez anos de carreira como profissional». Sem falsa modéstia afirma: «Estou no lugar que mereço». Além do «salto qualitativo» que o trabalho apresenta, a introdução de uma banda, coristas, bailarinas e todo o suporte técnico, Luís apostou ainda numa mudança de visual. Uma aposta que o «cantor, autor e compositor» fundamenta com uma certa saturação. «Essa moda da música pimba, que eu nunca soube muito bem o que era, começou a entrar comigo e comecei a não gostar». A partir daí, «mudei de visual e dei também a entender que tenho qualidade para poder fazer outro estilo de música» Isto porque, segundo ele, tanto faz este estilo de música como outro. A propósito de qualidade, conta uma história que aconteceu num espectáculo dado na Suiça, junto da comunidade portuguesa. «Quatro ou cinco pessoas de uma rádio acusaram-nos de estarmos a enganar o povo».
Gabriela Marujo / terras da Beira, 14/05/1998
http://www.freipedro.pt/tb/140598/cult3.htm
Foi a fazer bailes por todas as aldeias do distrito da Guarda que Luís Filipe Reis deu o pontapé de saída nas lides artísticas. Tinha então 16 anos e já uma grande paixão pela música popular portuguesa. Cantarolava muitas músicas «tipo José Malhoa», lembra. Na altura comprou uma bateria «muito pobrezinha» e aprendeu a tocar sozinho. Surgiu então a oportunidade de mostrar as suas habilidades em público. O convite veio da parte de um irmão do acordeonista António Júlio. Luís Filipe Reis aceitou e logo no primeiro dia fez um baile. «Recordo-me que em Gonçalo», terra natal de António Júlio. Um duo que viu a sua popularidade aumentar dia para dia. «Quase todos os dias tínhamos um baile», garante o cantor. A sintonia entre eles era tanta que ouviam uma música ao meio-dia e tocavam-na à noite, «sem ensaio». «Coisas muito bonitas que aconteciam entre mim e ele», diz a propósito. Sempre música portuguesa ou cantada em português. «Ouvíamos música estrangeira mas não a tocávamos». Actualmente não sabe do paradeiro do companheiro de tantos bailes mas espera que não tenha deixado de tocar. «Nunca conheci ninguém com o ouvido do António Júlio», argumenta. Falando de si, Luís conta que sempre foi fã do Roberto Carlos e Frederic François, entre outros cantores românticos. Uma linha que sempre seguiu. «O meu bilhete de identidade é cantar canções românticas».
O facto de ser conhecido, ter «uma vida social boa» e dos pais lhe pedirem não foram razões suficientes para o demover de procurar uma vida melhor fora daqui. «Exijo muito de mim», explica. Essa exigência e um telefonema de Abílio Curto conseguem-lhe um passaporte até Paris. «O máximo que ele [Abílio Curto] fez por mim foi muito bom, muito embora não tivesse resultado». Fala com um certo saudosismo do ex-autarca e lamenta que a «pessoa amiga do Abílio» talvez o tenha esquecido. «As pessoas são amigas quando estão presentes. Às vezes esquecem a amizade». Apesar de não querer «estar a escrever um livro tipo Linda de Suza», Luís Filipe não quis deixar de referir que foi com «muita luta e sacrifício» que venceu o desafio. «Gravei o meu primeiro álbum em Paris, depois fui convidado para gravar nos Estados Unidos». Nos primeiros dois anos que se deslocou a Portugal para dar alguns espectáculos, Luís «tinha uma certa vergonha», porque as pessoas lhe diziam que tinha um «espectáculo tão bonito e não era conhecido». «É sempre triste quando não reconhecem o nosso trabalho no nosso país de origem». O terceiro ano correu melhor. Foi convidado para gravar em Portugal. "Obrigado Portugueses" foi o nome do trabalho. Valeu-lhe o primeiro disco de ouro. Sem ir à televisão. «Não havia Mades in Portugal, nem apoio à música portuguesa». Os dois trabalhos posteriores, "Flor Portuguesa" e "Bate Coração", tiveram igual reconhecimento. «Valeu a pena ter saído do meu país e ter alcançado esses êxitos».
Gozar a velhice na Guarda
Da lista de recordações que tem da Guarda, de onde é natural, - «nascido e criado no Bairro de S.Vicente» – consta o nome de Germano Morais. «Estive na casa dele durante cinco anos», conta. Luís Filipe Antunes Reis «fazia uns recados no escritório» do empresário, que ainda hoje considera como «um homem de muito valor».
Mas nem todas as suas recordações são boas. Uma delas foi quando a mãe o deixou. «A inveja das pessoas, pelo facto de ter nascido de uma família humilde e ter conseguido tudo isto com trabalho e talento», é outra. Luís não concorda com quem pensa que só com dinheiro é que se consegue vencer na vida. «Eu não o consegui com dinheiro», até «porque não o tinha». Daí o ter de emigrar. Paris continua a ser o ponto nevrálgico de Luís Filipe, mas sempre que pode dá uma escapadela até à sua terra natal, onde espera vir a gozar a sua velhice. É de opinião de que a Guarda é uma cidade moderna, mas considera que as grandes mudanças não são de agora. «Depois do 25 de Abril a Guarda subiu dia a dia».
Actualmente, «as pessoas que pertencem à câmara, e as que estão a tomar conta da cidade, estão a fazer por ela aquilo que ela merece».
A carreira de Luís Filipe Reis vai de vento em popa. O seu mais recente trabalho, "Esquece o meu nome", valeu-lhe um disco de platina e os primeiros lugares no top nacional de vendas, designadamente no Made in Portugal. O primeiro da sua longa carreira. «Tenho dez anos de carreira como profissional». Sem falsa modéstia afirma: «Estou no lugar que mereço». Além do «salto qualitativo» que o trabalho apresenta, a introdução de uma banda, coristas, bailarinas e todo o suporte técnico, Luís apostou ainda numa mudança de visual. Uma aposta que o «cantor, autor e compositor» fundamenta com uma certa saturação. «Essa moda da música pimba, que eu nunca soube muito bem o que era, começou a entrar comigo e comecei a não gostar». A partir daí, «mudei de visual e dei também a entender que tenho qualidade para poder fazer outro estilo de música» Isto porque, segundo ele, tanto faz este estilo de música como outro. A propósito de qualidade, conta uma história que aconteceu num espectáculo dado na Suiça, junto da comunidade portuguesa. «Quatro ou cinco pessoas de uma rádio acusaram-nos de estarmos a enganar o povo».
Gabriela Marujo / terras da Beira, 14/05/1998
http://www.freipedro.pt/tb/140598/cult3.htm
Subscrever:
Mensagens (Atom)