*** por Luís Pinheiro de Almeida, da Agência Lusa ***
Lisboa, 07 Mar (Lusa) - Um cidadão de Omã, Faul Al-Aufy, gosta de música pimba portuguesa, uma luso-alemã de Berlim, Fátima Schase, compra tudo o que é Amália Rodrigues, uma cidadã finlandesa, Paivi Rissanen, anda desesperadamente à procura de uma canção dos Delfins.Estes são alguns dos exemplos, exóticos, de um projecto de venda de discos portugueses para o estrangeiro concebido pela União Lisboa, com o apoio da RTPInternacional.
Trata-se da iniciativa designada por "divulgação de música portuguesa de qualidade junto das comunidades portuguesas no estrangeiro", que se desenvolve em três fases.A primeira fase, já em funcionamento, com um investimento de cinco mil contos, é o da venda de discos portugueses para o estrangeiro, via postal. A União Lisboa elaborou um catálogo com os discos imediatamente disponíveis e a RTPI emite para todo o Mundo os respectivos "spots" nas suas emissões, com as informações e pormenores relativos à compra dos discos.
Um português, ou um estrangeiro que saiba a língua de Camões, não tem mais que seguir as instruções da RTPI e encomendar para Lisboa o disco que desejar, que tanto pode ir de José Afonso à música pimba.
Graças aos apoios dos CTT, do cartão Visa e das companhias discográficas portuguesas, os discos chegam ao destinatário praticamente ao mesmo preço que em Lisboa, incluindo portes e registos.
A revista TV Guia Internacional, só para as comunidades, inclui igualmente informação sobre este projecto.
"A iniciativa é um sucesso e temos uma média de 40 encomendas por dia. O nosso +mailing+ de clientes em todo o Mundo já ronda os 2.500", disse à Agência Lusa Francisco Cruz, director da União Lisboa.
A União Lisboa é um conglomerado de empresas que inclui edição de discos, agenciamento de artistas e produção de espectáculos. É sobretudo conhecida por ser a responsável pela carreira dos Madredeus."O nosso objectivo não é o lucro. Nunca foi. O nosso desejo é que as nossas comunidades conheçam outra música portuguesa que não a que estão habituadas a ouvir", disse Francisco Cruz, não escondendo o desejo secreto de um dia a iniciativa evoluir para um verdadeiro "clube da cultura".
"Além dos discos, podiamos vender futuramente serigrafias e outras peças de arte, livros, artesanato. Há um mundo à nossa frente", argumentou.
Por enquanto, a RTPInternacional só está a emitir os "spots" no horário "prime time" da Europa, mas a curto prazo vai também emiti-los em horário nobre de outros fusos horários, como é o caso dos Estados Unidos.
Por esta razão, são os países europeus que aparecem à cabeça dos melhores compradores. Segundo dados a que a Agência Lusa teve acesso, a Suiça está no top do mês de Fevereiro com 329 discos encomendados, seguida da Alemanha com 117.
Fora da Europa, o Brasil vem à cabeça com 43 pedidos, seguido dos Estados Unidos com 35. Os serviços da União Lisboa já registaram também pedidos de Omã (1), Antilhas Holandesas (1) e Emiratos Árabes Unidos (1).
Os PALOP também são um dos destinatários mais queridos pela União Lisboa, mas sem grande sucesso, pelo menos em Fevereiro. Angola não fez qualquer pedido, mas o embaixador de Angola na Namíbia, Garcia Bites, solicitou por fax o envio do catálogo dos discos disponíveis.Moçambique comprou um disco apenas e São Tomé e Princípe também. De Cabo Verde e Guiné-Bissau a relação também é nula.Curiosa é a situação das Regiões Autónomas, que não são propriamente os destinatários deste serviço. No entanto, os Açores compraram em Fevereiro nove discos e a Madeira dois.
Quanto aos discos mais pedidos, o projecto "Rio Grande", de Rui Veloso, Tim (dos Xutos e Pontapés), Vitorino e Jorge Palma, surge à cabeça com 222 pedidos em Fevereiro, seguido dos Delfins, com 183, e dos Santos e Pecadores, com 107, e Dulce Pontes, com 98. Pedro Abrunhosa teve apenas 12 pedidos.
"A percentagem de pedidos de discos de música pimba ronda apenas os 12, 13 por cento", revelou Francisco Cruz à Agência Lusa.A segunda fase do projecto consta da gravação de uma primeira série de 26 espectáculos com artistas nacionais para transmissão exclusiva na RTPInternacional para as comunidades portuguesas. A série, semanal, é inaugurada no dia 25 de Abril com os Pólo Norte.Já estão gravados programas com os Flood, Primitive Reason, Francisco Seia, Né Ladeiras, Tó Neto, José Cid, Ala dos Namorados, Gaiteiros de Lisboa, Diva, Rão Kyao, Ritual Tejo, António Chainho e Teresa Salgueiro, Charrua, Vozes da Rádio, Pátria, Luís Portugal e Despe e Siga.
Os artistas portugueses não cobraram qualquer "cachet", razão por que Pedro Abrunhosa ainda não participou neste projecto, designado por "Clube das Músicas". Os programas, de 50 minutos cada, serão transmitidos em "prime time" para a Europa e em "prime time" para os Estados Unidos.
Esta segunda fase tem igualmente como objectivo a possibilidade de a RTP colocar, sem encargos, estes programas nas televisões nacionais da CPLP (Comunidade de Países de Língua Portuguesa), disse ainda à Agência Lusa Francisco Cruz.
Uma terceira fase do projecto, prevista para 1998, consiste na realização de festivais de música nos diversos países onde haja comunidades portuguesas, com artistas idos de Lisboa e artistas portugueses ou luso-portugueses locais.
"Ainda temos de pensar muito bem neste projecto, porque este envolve custos mais avultados", concluiu Francisco Cruz.
O disco que Faul Al-Aufy encomendou é uma colectânea de música pimba editada pela Espacial com o título "Sol de Verão
Agência Lusa, 1997 ©