quarta-feira, 27 de abril de 2011

LInhas Cruzadas

Cauteloso e observador. Estes são os adjectivos que se podem aplicar a Norberto Fernandes nos primeiros minutos de conversa.

Depois, é preciso fazer evoluir o dialogo com cautela, para baixar as defesas dos seus intensos olhos azuis e do tom fleumático com que responde às minhas perguntas. "Não gosto de sapatos novos". Esta inusitada resposta vem um pouca seca e refere-se ao edifício da Marconi, gentilmente alcunhado pelos lisboetas de "bolo de noiva".

Agucei as orelhas, convencida de ter detectado uma critica, Mas em vão, o presidente do Conselho de Administração da Marconi sorri da minha agitação ingénua e esclarece: "Não aprecio muito edifícios novos e acho que não necessitávamos de estar no centro de Lisboa, Mas tirando estas pequenas reservas, acho que é muito funcional".

Norberto Fernandes assumiu há dois anos a presidência da Marconi, depois de uma efémera passagem como Secretário de Estado dos Transportes e Comunicações do 13° Governo Constitucional no gabinete de Henrique Constantino, que faleceu escassos meses depois de ter sido nomeado.

Mas conhece bem a empresa, tem quase dez anos de dedicação à causa das Telecomunicações. Devagar percorremos a sala do Conselho de Administração, analisando os retratos dos presidentes anteriores ao anfitrião. Imperscrutável, Norberto Fernandes faz comentários de circunstância sobre os seus antecessores, comentando o estilo dos retratistas. Anoto: o nosso homem gosta de pintura.

O tom de voz só se altera quando nos perfilamos em frente de Henrique Constantino, o homem que levou o meu entrevistado para a política e para os corredores do poder. "Era difícil resistir-lhe, segui-o sempre que ele precisou de mim, Era um grande amigo". Na imponente sala da presidência da Marconi, vibra uma nota de calor e saudade. Imperceptível, mas presente, Noto que não existe nenhum retrato do Presidente em exercício, a imagem deste quarentão grisalho, nascido em 1950 na Cidade dos Arcebispos. Informa-me que só se tem direito a retrato depois de ter abandonado a presidência, uma manifestação de decoro e modéstia, para não se perderem as reuniões do CA, contemplando a sua própria imagem, Uma prática de grande bom senso, quando verifico que Miguel Horta e Costa lá passou pela Presidência da Marconi.

A vaidade não é um dos traços mais evidentes do actual líder desta empresa, que recentemente foi nomeado administrador da Portugal Telecom. Ou então é bem dissimulada. Faz a síntese do seu percurso profissional de forma comedida, pesando as palavras e os feitos. Sem ceder nunca ao auto-elogio.

E, contudo, o caminho profissional é assinalável. Lá muito para trás fica a infância em Braga, a licenciatura em Engenharia Electrotécnica (Electrónica e Telecomunicações) pelo Instituto Superior Técnico Tudo certo, como mandam as regras.

Inicia a carreira profissional nos CTT Correios e Telecomunicações, como engenheiro, Este início comedido foi pulverizado seis anos depois, Aos 28 anos Norberto Fernandes é catapultado para o topo, como Director-Geral dos Correios do Norte. Por esta altura, ajuda ao parto de um projecto que veio revolucionar a distribuição do correio nacional: a implantação do código postal, O sucesso da operação deve ter rendido os seus dividendos. "Meio caminho andado" na carreira do líder da Marconi: aos trinta anos já é Director-Adjunto da Direcção Geral de Telecomunicações dos CTT. E podia ter sido assim até à presidência de qualquer das empresas ligadas às Telecomunicações. Tranquilamente, sem sobressaltos.

Mas o meu entrevistado, embora pareça contido e programado para uma existência sem exaltações, parece não apreciar a previsibilidade. E, contra todas as previsões, rompe o percurso ligado a esta área:

"Fui trabalhar para a marinha mercante. O sector estava debilitado, a marinha mercante portuguesa moribunda, mas eu nem pensei duas vezes. Fui para a administração da Portline, onde passei anos muito bons. É uma actividade muito estimulante e exigente. E, ainda por cima, tem o mar associado. Aqui para nós, eu tenho alma de marinheiro". Estava finalmente quebrado o gelo. A partir daqui, o Presidente da Marconi solta-se e a conversa deixa o registo da entrevista formal. "Tenho uma enorme paixão pelo mar." Norberto Fernandes não é um marinheiro de água doce, possui embarcação e, pelo que deixa escapar, não deixa ninguém pegar no leme: "Tenho uma propriedade em Tróia e um dos momentos mais estimulantes do fim-de-semana é ir até Alcácer de barco, com a brisa na cara, almoçar ou meter o totoloto".

Com os olhos no mar e a carreira nos barcos, o presidente da Marconi parecia ter feito uma opção. Acumulou participações em empresas da marinha mercante, sempre como administrador ou presidente. Os olhos animam-se quando evoca estas recordações e já se permite sorrir:

"Nos finais de 80, resolvi dar outra reviravolta. E, assim, aceitei a direcção de frente da internacionalização da Marconi em Bruxelas Foi um posto importantíssimo, porque me permitia continuar no mundo empresarial internacional Foi um momento de aprendizagem".

Bruxelas encantou-o. Habituou-se à ironia flamenga, viciou-se na cerveja belga. "Ali fiquei no meu papel de observador de factos contemporâneos". Lança a provocação a brincar revelando um sentido de humor que se adivinha agudo e certeiro.

Regressa a Portugal e a progressão para a cadeira da presidência da Marconi é inexorável. Mais seis anos e de director sobe tranquilamente a administrador sendo finalmente eleito Presidente. E pouco tempo depois é nomeado para o Conselho de administração da PT.

A forma como lidera a empresa é pragmática e dialogante. Orgulha-se de não fechar a porta a nenhum funcionário que queira falar com ele e, sempre que pode, imprime o seu cunho nas relações com os subordinados. Deixa-me perplexa quando confessa que é conhecido dentro da empresa por ser travesso e imprevisível. Não é bem o que eu estava à espera do Presidente de uma das maiores empresas de telecomunicações do País. Diverte-se com o meu espanto:

"Toda a gente dentro da empresa sabe que eu adoro pregar partidas. Ainda hoje preguei uma".

Olho para todos os lados, indagando se teria sido eu o alvo de tanto esforço. "Não é esforço nenhum. Todos os dias tento desmanchar a seriedade das coisas. Que sentido tem a vida se não brincarmos um pouco?"

Confessa-me então o seu gosto pela festa, pela boa-disposição, pela subversão. "Construir uma festa é ainda melhor que vivê-la. É desfrutar, por antecipação, o prazer que vamos proporcionar aos nossos amigos".

Surpreendente! As festas do senhor Presidente são operações de grande fôlego, prática que mantém desde a juventude:

"Pertenço a uma família grande, que se reunia todos os verões, para brincar e celebrar. Atacávamos sempre em bando."

Dentro da Marconi, toda a gente sabe da disponibilidade do Presidente para subverter.

"Atenção, não faça juízos errados. A cultura desta empresa é de comunicação e de proximidade. Não se pode confundir a nossa filosofia positiva com falta de disciplina. Mas gosto de baralhar as regras, odeio os paradigmas de automatismo, que nos fazem repetir todos os dias as mesmas tarefas".

Começo a compreender que o meu convidado é um poço de surpresas. As telecomunicações têm o seu fascínio, mas não lhe provocam discursos apaixonados. A palavra que lhe faz acender a alma é inesperada e parece quase deslocada nos salões bem-comportados da presidência da Marconi:

"A música tem um efeito poderoso em mim, Adoro música coral, Cheguei a considerar a hipótese de ser músico profissional. Depois, o pragmatismo impôs-se. Mas fiz estudos musicais sérios, estive no Centro de Estudos Gregorianos, fiz parte de um agrupamento de musica coral liderado pelo Francisco d'Orey, percorri o Pais a cantar em tournées divertidíssimas".

As recordações emergem sem dificuldade, os episódios saltam do passado:

"Lembro-me de que muitas vezes, na Juventude Musical, à tarde, púnhamo-nos a ensaiar. Mas, como não tínhamos a sonoridade desejada, arrancávamos para os Jerónimos e cantávamos para quem estivesse. Às vezes, era um velório, outras um casamento. Era fantástico. Uma tarde de sábado, deu-nos para cantar numa escadinha lateral do convento. Quando nos calámos tínhamos à nossa frente um grupo de turistas entusiasmados, que resolveram agradecer atirando-nos moedas. Foi dos poucos dividendos económicos que a música me rendeu. Mas o prazer que provoca!..."

A voz é o seu instrumento. Permite-se uma única vaidade, classificando-a de bonita e afinada, mas logo com timidez confessa que não tem aptidões especiais para qualquer outro artefacto musical. Mas a guitarra é uma presença constante no seu escritório doméstico e, segundo me conta, não se passa um dia que não dedilhe qualquer coisa, só para limpar a alma. No gabinete da Marconi ouve-se Haendel em surdina, quase aposto que assobia no elevador e canta na casa de banho, mas conseguiu surpreender-me de novo quando me revela o conteúdo da sua mais prezada colecção musical:

"Música pimba. Sou um fanático apreciador de música pimba. Adoro fazer provocações sobre musica pimba e divirto-me a teorizar sobre o fenómeno. Compro tudo, tenho autógrafos dos artistas. Faço sessões críticas com os meus amigos".

Amigos, parentes e colaboradores sabem desta fixação e todos se esforçam por contemplar o Presidente com os últimos sucessos da Ágata e não deixar escapar nenhum dos registos da Ruth Marlene e da Romana.

"O que mais me interessa são as letras. É extraordinário, a verdade do País está ali, em coisas singelas como o "Pisca-Pisca". Estão ali pérolas de senso comum".

De propósito, esquiva-se de tecer comentários sobre telecomunicações, um tema que, não o deixando indiferente, não parece estar nos seus afectos. E quando, para rematar, lhe pergunto, se lhe interessava mais conhecer Aristóteles Onássis ou Bill Gates, responde-me com diplomacia:

"Essa pergunta é difícil. Os armadores gregos são heróis para quem gosta do mar. O Bill Gates também é um gigante... Mas, se não se importa, quem interessaria mais nesse pacote era a Maria Callas".

Júlia Pinheiro / Linhas Cruzadas nº 12

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Carla Gamboa


Depois de um período de reflexão
Carla Gamboa de novo na estrada

Nasceu em Sintra há 27 anos, mas por razões pessoais veio viver há ano e meio para o Pinhal Novo, onde tem estado ligada à rádio Popular FM como locutora. Repartindo-se entre a paixão da rádio e a da música, iniciou-se nas cantigas há quatro anos, alcançando a prata logo com o primeiro disco, "Não Sou Sedutora", a que se seguiu "Cores e Raças".
Após um interregno de dois anos e meio na carreira, Carla Gamboa regressa com uma nova atitude, um nova postura que quer cortar com o passado e com as tendências do mercado, apostando na originalidade do seu trabalho e na utilização de músicos a sério, para se lançar "De Novo na Estrada".

Setúbal na Rede - A que se deveu esta pausa na carreira, que é retomada agora com a edição do trabalho "De Novo na Estrada"?
Carla Gamboa - Aconteceu essencialmente porque levei muito estalo enquanto andei na estrada e ouvi muitas coisas que nenhuma mulher com 'M' maiúsculo gosta de ouvir, como chegar ao local de um espectáculo e um responsável da comissão de festas vir perguntar ao meu marido se eu e as duas jovens dos coros também nos despíamos e íamos todas jeitosas para cima do palco. Nesse caso respondemos que se nos tivessem avisado que era isso que queriam teríamos levado duas strip-teasers para se despirem depois do concerto e assim podiam ficar contentes a ver mulheres nuas em cima do palco. Agora a nós, não é para isso que pagam. E depois eu era muito confundida com muitas coisas que por aí andam e isso fez-me sofrer imenso durante os dois anos em que andei na estrada. Então tivemos que parar e pensar bem se era isso que queríamos, se queríamos manter esta linha e entrar dentro do género mais popularucho da música portuguesa só para ganhar dinheiro, ou parar para pensar e optar por não ganhar tanto mas fazer uma coisa que digna e que me desse gosto a cantar para não estar a enganar ninguém. A questão era decidir entre ganhar dinheiro ou ser eu própria e a opção foi por ser eu própria. Foi assim que apareceu agora este "De Novo na Estrada", após dois anos e meio de reflexão.
SR - Quer isso dizer que a carreira da Carla Gamboa começou por essa música mais popularucha?
CG - Não chegou a ser bem popularucho, mas quase, já que eu tinha que entrar pela porta mais fácil e essa era a porta que estava aberta nessa altura, até mesmo para uma editora se dispor a pegar e editar um trabalho. A prova é que agora, com este novo trabalho, nenhuma editora me abriu as portas e nós corremos várias que nos disseram que o trabalho estava muito bonito, está uma produção muito boa, mas que não toca nas feiras. Mas a intenção deste trabalho não é tocar nas feiras, é tocar no coração das pessoas, fazer com que as pessoas oiçam a minha mensagem. Não quero que as pessoas assistam a um espectáculo da Carla Gamboa e no dia a seguir só se lembrem que as bailarinas são boazonas. Eu quero é que as pessoas no dia a seguir digam que a Carla Gamboa tem um espectáculo que vale mesmo a pena.
SR - Mas a Carla Gamboa também quer vender discos?
CG - Para vender discos é necessário, para já, ter uma grande editora por detrás, com um grande jogo de marketing e de publicidade. Não é preciso fazer música a pensar nas feiras, pois o Paulo Gonzo, o Rui Veloso, a Dulce Pontes e os Madredeus também vendem. Não é preciso ser popularucho. Se me tocarem nas feiras, óptimo, fico feliz porque é sinal que as pessoas das feiras também gostam de outro estilo de música. O problema é que as editoras presentemente injectam todo o mercado só com um estilo de música e tudo o que se desvie não convém que saia, porque se pegar vai ser uma grande chatice e vai obrigar a fazer uma viragem e começar tudo de novo. Por isso eu estou muito feliz neste momento porque sou original. Não há mais ninguém a fazer este tipo de música actualmente em Portugal. Este é o meu estilo. Esta sou eu. Depois houve um amigo que abriu uma editora, a Socidisco, e que editou a Carla Gamboa, mas temos um problema, pois sou a primeira artista da editora e como é uma editora que está no início da actividade é praticamente impossível chegar à televisão.
SR - Ao dizer isto a Carla Gamboa evidencia uma certa amargura, não?
CG - Estou muito amargurada, pois uma pessoa leva dois anos e meio a fazer um trabalho com cabeça, tronco e membros, e chega à conclusão que vale a pena em termos pessoais porque vem de dentro, mas para o resto não faz sentido. As editoras não pegam, a televisão não passa. Afinal serviu para quê todo este trabalho?
SR - Para o que está à espera que sirva?
CG - Estou à espera que me levem à televisão para eu desbobinar tudo e meia alguma coisa. Felizmente as rádios estão a passar, estou a dar entrevistas por telefone para rádios de todo o país que nos escrevem e nos ligam a dizer que o disco está muito bom, está diferente e é bom ouvir coisas diferentes.
SR - Este trabalho resulta sobretudo de um investimento pessoal da Carla Gamboa. É sinal de que acredita muito no que faz?
CG - Acima de tudo é preciso gostar muito de cantar e é preciso ter uma coragem muito grande quando não se tem um bom apoio por detrás. É preciso ter alguma lata mas acho que este projecto merece algum destaque, mais que não seja por assinalar um ponto de viragem, por se estar a tentar fazer coisas novas e originais em Portugal, onde até agora eram tudo cópias. Fartei-me de ser uma ovelha atrás do rebanho.

Carla Gamboa SR - Mas este trabalho é diferente em quê?
CG - É diferente nas músicas, é diferente nos poemas, é diferente na interpretação porque são músicos que estão a tocar, é já um trabalho de uma grande envergadura. Mas é um trabalho que está ao alcance de ser feito por qualquer pessoa, basta que se tenha a coragem de dizer que já chega de fazer figura de palhaço a imitar os outros.
SR - Isso é uma crítica implícita à denominada música 'pimba'?
CG - 'Pimba' é a canção do Emanuel. Não estou a querer fugir à pergunta mas acho que há música de boa qualidade e música de má qualidade, e isto é uma crítica a sério à música de má qualidade que se faz neste país. Música de muito má qualidade, sem gosto nenhum, porque metem um órgão a tocar, metem a voz por cima e meia dúzia de coros e o disco está cá fora. Às vezes é o primeiro disco, onde se gastam mil ou dois mil contos, e ainda compram os discos para subirem no top e já são artistas. É mentira. Eu ando nisto há quatro anos e sou uma aprendiz de artista, não sou artista, pois ainda há muito que aprender. Um advogado quando tira o bacharelato está uma série de anos até ser advogado. Ele tem um patrono e tem que estar ali a aprender. Connosco é a mesma coisa. Ninguém pode gravar um disco e dizer que é artista. Então e a Simone de Oliveira? Então e a Amália Rodrigues? O que é que elas são? Agora quanto à música, há boa música e má música e a boa música são os originas. A má música são as cópias, porque uma cópia nunca é, nem de longe nem de perto, igual a um original.
SR - Mas a Carla Gamboa não está livre de no regresso à estrada voltar a ouvir perguntas sobre se se vai despir em palco ou não?
CG - Enquanto isto não der a volta a cem por cento e nós nos mentalizarmos que um artista, ou um aprendiz de artista, quando vai para cima de um palco e é pago para cantar, para dançar e para entreter o público e não para se despir a ele ou às bailarinas, isto vai continuar na barafunda total. E os homens, é claro, querem é ver um bom par de pernas em cima do palco, mas o problema é que ninguém se convence que no dia a seguir ninguém fala do artista mas das pernas das bailarinas. Agora, eu nunca senti a necessidade de me despir em cima do palco e no final dos espectáculos recebo tantos ou mais aplausos que os outros. Não preciso de me despir e sou fiel a mim própria.
SR - Mas a Carla Gamboa em cima do palco é a mesma que fora dele?
CG - Sou, embora haja um cuidado adicional com a maquilhagem e com a roupa. Quando chego a um sitio onde vou actuar, apresento-me da forma mais simples possível, de uma forma natural, porque acho que é mais bonito e melhora a componente do espectáculo chegar depois a cima do palco já produzida. É como a metamorfose da lagarta que depois se transforma em borboleta. Tudo isso faz parte do espectáculo e depende só do tipo que espectáculo que queremos ter. Não critico ninguém, mas gostava era que não nos confundissem uns com os outros e não nos metessem todos no mesmo saco, porque não somos todos iguais. É como aquela grande máxima, "todos diferentes, todos iguais", mas aqui ao contrário, "todos iguais, todos diferentes", porque somos todos artistas, estamos todos no mesmo núcleo, mas cada macaco no seu galho.
SR - Como são então os espectáculos da Carla Gamboa?
CG - Há uma atitude bastante alegre, bastante jovial, bastante roqueira, de miúda, mas com muita alegria porque eu adoro o palco e o palco é a minha vida. Gravo um disco com muito carinho, especialmente este porque senti as letras todas, mas é no palco que eu vibro e sou incapaz de ficar parada. Eu salto, corro de um lado para o outro, meto-me com o público, ponho-os a cantar e pular comigo. Há todo um entrusamento entre mim e o público e isso é muito importante. Os discos gravo-os para chegar ao palco.
SR - Quer dizer que os discos ficam aquém dos concertos?
CG - O meu sonho era gravar um álbum ao vivo, mas não quero é fazer tudo de repente e, sobretudo, não quero dar o passo maior que a perna. Tenho muito medo de rasgar as calças. Isto vai devagarinho, pois eu só tenho 27 anos e tenho tantos anos pela frente, que não preciso de ter pressa nenhuma. Tudo o que tiver que acontecer vai acontecer naturalmente, porque tem que acontecer e porque o público gosta de mim e porque eu gosto essencialmente daquilo que faço. No dia em que deixar de gostar do que faço, acabou a Carla Gamboa.

Pedro Brinca / Setubal Na Rede, 05/10/1998

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